A Biblioteca da Meia-noite, e a Busca pelo Sentido da Vida

Já se imaginou numa grande biblioteca onde cada livro seria uma vida que você deixou de viver? Que em cada decisão tomada somos direcionados a um resultado diferente? Esse é o ponto de partida de A biblioteca da meia-noite, de Matt Haig, publicado pela Bertrand Brasil.

Diante de decisões e arrependimentos que teve, Nora vive um momento tenso onde não enxerga mais sentido em viver: seus pais se separaram e perdera o pai há pouco por causa de uma maligna doença.

Seu relacionamento com o único irmão, Joe, há tempos nem mesmo existe. Onde trabalha aparenta não ser tão importante e há tempos perdera a chance que acreditava ter na vida de um bom relacionamento amoroso, já que o noivado com Dan não tinha ido pra frente.

Ela se achava ruim para tudo. Não era boa para a vida.

Nora decide chegar ao último ato, mas próximo a meia-noite algo mágico acontece, uma mescla de realidade e fantasia. Ela se vê num mundo paralelo: está numa grande biblioteca, na sua biblioteca da vida e se depara com uma senhora, alguém que a consolou num momento difícil quando pequena, a Sra. Elm. Ela vai direcionar Nora na narrativa e com ela, Nora vai aprender muito sobre a vida e o mundo, mas será que Nora mudará de ideia e voltará a lutar pela vida?

“Você pode ter tudo e não ser nada”

Conhecendo os personagens

Nora

Nora é aquela protagonista inteligente, com diversos talentos em áreas distintas. Ela é o tipo de pessoa que poderia escolher quem quer ser. Tem dom para a natação, para a docência e até para ser artista de uma banda famosa, mas o medo normalmente a impede de seguir com diversos sonhos.

Seu jeito realista demais e negativista acaba por afastar algumas pessoas e por não ir até o fim em diversas questões na vida se sente desmotivada e a depressão inunda seus pensamentos, fazendo com que ela acredite que não é importante para ninguém, que ela não é alguém que vale a pena, a ponto de acreditar que não há sentido na vida.

Elm

A sra. Elm é o oposto de Nora, a bibliotecária da escola, como nossa consciência, ela é a parte psicológica da obra. Ela seria como nosso lado solidário, mais empático e positivo de que tudo pode melhorar, de que ainda há algo a aprender, de que sempre há algum motivo para ser grato e viver.

Sra. Elm mostra ao leitor que a vida acontece e é real. Ela traz a reflexão de que escolhas, boas ou ruins sempre trazem aprendizados e podem gerar maturidade e crescimento. Sra. Elm, essa personagem de profundas palavras que diz a Nora:

“É o arrependimento em si. É o arrependimento que nos faz encolher, murchar e nos sentir como nosso pior inimigo, além de o pior inimigo das outras pessoas. Não dá para dizer se qualquer uma dessas outras versões teria sido melhor ou pior. Essas vidas estão acontecendo.”

Joe

O irmão de Nora, embora seja um elo de amor forte para a protagonista, há tempos não se falam. Parte porque Nora possui diversos ressentimentos que trazem medo de tentar se reaproximar, por receio de gerar conflitos ela deixou de procurar por ele. Por esse elo e por se envolver com drogas, Joe é um personagem que gera muita emoção, compaixão e traz reflexão sobre o autocuidado, a importância da família e autoaceitação.

Pai de Nora

Para mim, o pai de Nora representa a importância dos pais na vida dos filhos, especialmente na formação do caráter, pois Nora aparenta sempre ter sido aquela filha que queria alegrar o pai, dar orgulho e ser bem aceita por ele, daí a relevância de um relacionamento saudável com os filhos, onde eles se sintam aceitos e amados e acima de tudo que a família seja um lugar seguro. Com a separação dos pais, Nora e o irmão foram muito afetados e a forma como lidaram com isso, assim como a forma que seus pais agiram gerou mágoas e traumas que refletiu na vida adulta de Nora e Joe.

Dan

Dan parecia um bom partido, até o leitor se deparar com o relacionamento deles na história. Ele é um personagem que paralisa Nora diversas vezes, inclusive, a razão de muitos arrependimentos dela, mas se bem analisado é aquele tipo de homem machista, que não aceita opiniões diferentes da dele e acaba por impor um relacionamento doentio.

Izzy

Essa é a personagem fofa e amiga verdadeira de Nora. Alguém que ela sempre podia contar e em quem provavelmente ela se inspirava. Izzy era uma mulher independente e decidida, não levava desaforo pra casa e estava sempre disposta a ouvir Nora, aquela amiga de todas as horas que, sem querer, Nora perdeu no meio do caminho de suas escolhas.

Sobre a biblioteca da meia-noite

A obra é muito bem construída e impactante. A escrita do autor nos envolve do início ao fim com o mistério do que vai acontecer com Nora, qual será o seu fim.

Fiquei me perguntando se ela estaria morrendo, se o autor daria a ela uma chance de viver em alguma das vidas que ela escolhera ou se voltaria a viver a vida de onde parou.

Os personagens são bem construídos e os diálogos muito críveis, fazendo com que o leitor mergulhe de cabeça e se veja na biblioteca da própria vida.

“A vida não é feita só das coisas que a gente faz, mas das coisas que a gente não faz também.”

A biblioteca da meia-noite é aquela obra com um mix de sentimentos: ora você chora, ora sorri, ora se sente sensibilizado e ora fortalecido. Além disso, tem mistério, romance, filosofias e conflitos existenciais que normalmente passamos, ou seja, em algum momento essa obra vai ser para você!

Trata de saúde mental, de relacionamentos familiares, de relacionamentos abusivos, de autoaceitação, de amor à existência e de segunda chance.

Impressões pessoais

Nem sei quantos quotes eu marquei! Foi uma leitura impactante, difícil não se ver em alguns momentos como a Nora da vida real, quando nem sempre sou grata pelo que tenho e pelo que me tornei.

Tantas vezes insatisfeita e sem saber aproveitar a vida com mais leveza. Me fez refletir como o medo e a ausência de autoaceitação e autocuidado pode aos poucos anular nossos sonhos e reduzir quem nós somos de verdade.

A biblioteca da meia-noite é uma obra densa e profunda, mas muito linda e emocionante, com aquele desfecho de aquecer o coração e dar razão à vida, a positividade e leveza, então, com certeza é um favoritado. Recomendo demais. O quote que bem define essa leitura:

“Nunca vai viver a vida se ficar procurando o sentido da vida”.

Beijos, Lorena =)

Leia outros posts da Galera Record!