Kililana Song

Kililana Song – um Envolvente e Memorável Romance de Formação

Oi gente, tudo bem com vocês? Quem acompanhou os últimos stories viu que chegou por aqui Kililana Song, um romance de formação de Benjamin Flao, a mais nova HQ da Editora Nemo.

Acredito que essa é a primeira história que leio ambientada no Quênia. Li outros livros sobre a cultura africana, mas esse é o primeiro nesse país. Confesso que a graphic novel me chamou bastante atenção tanto pela premissa, quanto pelo trabalho gráfico impecável.

“Se quer saber, Liongo Fumo não é um morto como os outros, não… Porque ele também não era um homem como os outros… Era um gigante.”

As ilustrações merecem um elogio à parte. Comentei em outros posts o quanto ilustradores têm o poder de transmitir sentimentos em seu trabalho, em Kililana Song não é diferente. Momentos de curiosidade, medo, esperança, são retratados de maneira tão genuína que conseguimos compartilhar tais sentimentos com os personagens.

Por dentro da história

Por falar em personagens o meu favorito é Naim sem dúvidas. Ele é aquela criança que está sempre correndo na rua, conversando com os amigos, ouvindo as conversas dos adultos, e também fugindo do seu “irmão” mais velho Hassan. Irmão é maneira de dizer, pois Naim é órfão e mora com sua tia, mãe de Hassan. Na casa simples, sem muitos móveis e comida, vivem Hassan, seus pais, e Naim. O tio de Naim, no entanto, trabalha numa outra cidade, motivo de ausência grande parte do tempo.

Hassan é mulçumano e sente que tem a obrigação de manter seu primo nos caminhos de Alá. Ele acredita que ler o alcorão, ficar longe de mulheres e bebidas, e manter sua família no tempo o ajudará a conseguir um lugar no céu. Pelo menos é isso o que ele diz a Naim quando tenha convencê-lo à voltar para a sinagoga.

“O que é um irlandês?
… um cara que mora na Irlanda, banana! Saberia disso se fosse um pouco mais à escola!
Eu não aprendo essas coisas na madraça*…”

Madraça: instituição educacional dirigida por religiosos nos países muçulmanos.

Eles moram num pequeno vilarejo no litoral, Lamu. A economia gira em torno da pesca e do turismo. Todos os dias vários barcos saem dali com destino a outras ilhas, passeios que encantam turistas vindos da China, França, e até Estados Unidos.

Lamu, belezas naturais e um complexo turístico

Muitos desses turistas ao conhecer aquela região são inspirados pelo capitalismo a transformar Lamu num grande complexo turístico. Onde serão oferecidos aos hóspedes hotel com piscina, campo de golfe, e todas as mordomias que somente um hotel desse porte tem a oferecer. Mesmo o lugar sendo uma área de preservação da UNESCO, muitos empresários acreditam que podem “burlar” a lei.

“Essa história, cê deve saber, é a de um homem que deu a vida para proteger as crenças de seu povo, que não colocavam o ser humano no centro do mundo dos vivos…”

Paralelo a isso, somos apresentados à lenda de Liongo Fumo. Um bravo guerreiro que morreu a muitos anos e seus ossos descansam numa das ilhas perto de Lamu. Agora que mZé está velho e doente é o momento de passar adiante a responsabilidade de cuidar dos ossos enterrados. Quem melhor para esta tarefa do que nosso amigo curioso Naim?

Ao tentar fugir do seu irmão, Hassan, Naim viverá aventuras que jamais imaginou. Com direito a conhecer traficantes de drogas, ladrões, prostitutas, mas também descobrir o valor da amizade, da oração, e no meio disso tudo, amadurecer e descobrir seu destino.

Benjamin Flao

Algumas reflexões

Num primeiro momento pensamos que o autor misturou muitos assuntos diferentes e que talvez a história fique meio confusa. Porém, no decorrer da leitura percebemos que tudo faz sentido. Principalmente a crítica sobre o desmatamento e grandes construções.

Quando os turistas americanos chegaram à ilha ao invés de aproveitar as belezas naturais, eles logo quiseram se apropriar daquelas terras e transformar num grande negócio, sem se preocupar com os animais que ali viviam, com a plantação, nem mesmo com os nativos.

“Primeiro os mortos falantes, depois as árvores e agora o fogo!
Se ouvirmos as brasas, elas têm muito pra contar.
Estão bem falantes esta noite.”

Essa não é uma situação isolada. Em vários lugares do mundo as pessoas descobrem lugares exóticos e logo querem transformar numa atração turística. A exemplo disso temos a Tailândia, que após as gravações do filme “A ilha”, com Leonardo DiCaprio, se tornou um dos destinos mais procurados do mundo. Sendo necessário que o governo daquele país restringisse o acesso para que os encantos naturais fossem preservados.

Fernando de Noronha, Porto de Galinhas, Ilha do Mel, são exemplos de lugares que recebem milhares de turistas todos os anos e que também precisam de cuidados para que o uso desenfreado não comprometa seus recursos naturais.

Naim, meu personagem favorito

Se você já leu minhas impressões sobre “Minha avó pede desculpas“, sabe o quanto gosto de crianças espertas e inteligentes. Sei lá, elas tem “um que” que torna a leitura mais dinâmica e divertida. Com Naim foi exatamente assim. Acompanhá-lo correndo pelas ruas e subindo nos telhados para se esconder do irmão é uma das minhas partes favoritas. Sentar na calçada para comer junto com seu amigo é uma das cenas que guardarei também, lembra muito a minha infância quando morei no Paraná.

Apesar da pouca idade ele trouxe uma reflexão muito importante. Servimos a Deus por medo ou respeito? Quando seu irmão o obriga a ir à sinagoga, e explica que para estar perto de Deus é necessário ler o Alcorão, Naim diz que Hassan só faz isso por medo e não por realmente ter fé e acreditar em algo maior. Além disso, as crianças que não obedecem são repreendidas. Outro motivo pelo qual ele não gosta de ir.

“O Hassan reza muito porque tem medo de Deus.
Eu também um pouco. Mas como sei que ele me conhece muito bem…
tá tudo bem…
…porque, na certa, ele me entende!”

É fato que Hassan não é pai de Naim, mas como irmão mais velho teria o dever moral de guiá-lo pelo bom caminho. Mas isso não acontece, uma vez que, a religião em si mais os afasta do que aproxima.

Influência da religião na minha educação

Fui educada numa família católica, estudei num convento (quase fui freira), e me mantive praticante por alguns anos. No entanto, um sentimento que sempre me acompanhou foi justamente esse: o medo de desagradar a Deus ou Ele me castigar por ter feito algo errado/ruim. Ainda hoje ouço a voz dos meus pais dizendo que Deus tudo vê e que preciso ser cuidadosa com tudo que falo ou penso. As vezes me questiono se é medo ou respeito, assim como Naim.

Kililana Song foi uma leitura muito rica e cheia de reflexões como vocês puderam perceber. Esse é um dos motivos que me faz ser tão fã das HQs da Nemo. A cada história, uma nova reflexão. A cada graphic novel, um personagem que se torna marcante. Naim, assim como Suzette, John, e Amora ganharam meu coração.

Espero que tenham gostado de conhecer um pouco mais Kililana Song, de Benjamin Flao. Agora me conta, já leram alguma HQ da Nemo ou história ambientada no Quênia? Conta aqui nos comentários.

Até o próximo post, Érika ♡


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6 Comentários

  1. Muito legal esta jornada de amadurecimento e descoberta do personagem durante o desenvolvimento da estória, e nós vamos aprendendo também com ela, conhecendo outras culturas.

  2. Eu estava mesmo a procura de uma história assim,com certeza na minha primeira oportunidade quero lê o livro completo.

  3. Nã é sobre ler, é sobre aprender mais sobre povos e sua cultura, isso já me conquistou. A história também chamou minha atenção e certamente entrará na minha lista,ótima resenha.bjus.

  4. Adoro historias sobre a vida das pessoas, e com certeza pelo o que você escreveu, naim seria meu personagem preferido também. Bjks

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