“Lugar errado, Hora errada” um Thriller com Viagem no Tempo
Olá pessoal! Como estão? Nos últimos dias li “Lugar errado, hora errada“, o mais novo thriller de Gillian McAllister, autora best-seller do New York Times, publicado em janeiro pela Editora Record.
Eu acredito verdadeiramente que alguns livros possuem a incrível capacidade de nos fisgar antes mesmo de serem abertos, e foi exatamente isso que aconteceu comigo. Me interessei por esta história bem antes de saber que ela seria publicada por aqui, Lugar errado, hora errada prometia um suspense deveras singular mas entregou bem mais que isso.
Gillian construiu uma trama magnífica que aborda a não romantização da maternidade e a relação mãe e filho de forma extremamente real, eu mesma me identifiquei com alguns pensamentos e sentimentos da protagonista. Além disso, para quem busca um mistério difícil de desvendar, eis aqui um quebra-cabeça complexo capaz de manter o leitor cativo e meio perdido do início ao fim.
“Toda vez ela se sentia culpada. É uma loucura a quantidade de coisas que podem fazer uma mãe se sentir culpada.” (p. 73)
Por dentro da história
Jen é uma advogada competente e uma mãe/esposa dedicada que viu sua vida tranquila desmoronar de uma hora pra outra. Na véspera do dia das bruxas enquanto esperava seu filho voltar para casa ela testemunha o momento exato em que ele esfaqueia um homem até a morte. Transtornada, Jen é tomada pelo desespero ao perceber que Todd ainda tão jovem destruiu seu futuro com as próprias mãos.
O medo do que está por vir se mistura aos inúmeros questionamentos sem respostas, por que o gentil, educado e sorridente Todd que Jen pariu e criou se tornou um assassino? Quando tudo mudou? Uma boa mãe seria capaz de controlar o destino do filho? Jen é uma mãe ruim?
“Talvez seja culpa sua, pensa, olhando para a televisão sem prestar atenção direito no que está passando. Sempre achou a maternidade muito difícil. Para ela, foi um choque. Uma redução tão grande no tempo que tinha para si.” (p. 37)
Após uma noite de sono, Jen está pronta para lutar pelo filho, está determinada a descobrir o que houve e pretende dar tudo de si para evitar que o rapaz passe longos anos na prisão. Contudo, ao perceber que ao invés de acordar no dia seguinte ao crime ela está no dia anterior, notar que pode estar vivendo em um loop temporal e começar a acordar cada vez mais no passado, Jen decide reviver esses dias com um olhar mais atento.
Uma vez iniciada a busca pelo gatilho que levou o filho a matar, Jen se lança em uma investigação perigosa que põe em risco sua realidade atual, quanto mais fundo Jen mergulha mais ela descobre os importantes pedacinhos de vida que ela deixou de perceber. Os segredos, as mentiras, as ausências e o silêncio enraizados em sua família, crescendo pouco a pouco e destruindo tudo sem que ela se desse conta, são algumas das descobertas difíceis com as quais ela precisa lidar.
Minhas impressões
Antes de tudo eu preciso deixar claro que, sim esta foi uma leitura positiva para mim, mas talvez não agrade completamente os leitores mais experientes em narrativas do gênero. Vejam bem, eu não me recordo de já ter lido outra trama que abordasse loops temporais e efeito borboleta, então certamente não sou a mais entendida nesta temática e tampouco estava buscando respaldo científico para esta questão.
Aproveitei ao máximo toda a empolgação e desbravei satisfeita estas abordagens que me são incomuns, mas mesmo sendo leiga no assunto percebi que o cenário criado pela autora é meramente ficcional e conveniente ao enredo, a personagem precisava viajar no tempo e assim aconteceu, as explicações dispensadas para este feito são vagas e não convenceriam nem mesmo em um universo fantástico. Isso não me incomodou pelo simples fato de que eu estava disposta a entrar no jogo, no fim não faz muito sentido mas encaixa direitinho no que foi proposto pela Gillian, e pra mim bastou.
Dito isso, Lugar errado, hora errada foi uma grata surpresa. Eu esperava um mistério interessante envolvendo assassinato e viagem no tempo, mas não estava pronta para a enorme carga dramática que compõe esta história.
“É tão estranho, para ela, testemunhar isso; as coisas que aconteceram enquanto ela advogava, enquanto estava ocupada, se preocupando demais com o trabalho e — obviamente — não o suficiente com a família.” (p. 53)
A angústia palpável de Jen nos envolve completamente durante toda a leitura, ela não é apenas uma mãe tentando entender por que o filho matou, mas uma mulher questionando todas as suas decisões, todos os seus erros, acertos e limitações. Voltar no tempo permitiu que Jen acessasse suas memórias como uma expectadora atenta aos detalhes, e me fez questionar o quanto de nós mesmos perdemos em meio a rotina, quanta história deixamos passar enquanto olhamos na direção oposta. Como diria Pádua Dias, “A vida acontece nos detalhes, nos desvios, nas esquinas que você decidiu não entrar (…)”.
Jen se entregou completamente ao amor que sente por Kelly, viveu seu casamento de forma plena, ao mesmo tempo em que seguiu empenhada em ser uma advogada incrível e corresponder as expectativas do pai, se tornou mãe e continuou se doando ao máximo enquanto se equilibrava na corda bamba de ser tudo o que todos esperavam, esposa, filha, advogada, mãe… e embora não estivesse totalmente confortável desempenhando todos esses papéis, ela seguia se esforçando para ser, sentir e agir conforme o esperado, ainda assim ela encontrou espaço para se questionar se não deveria ter sido mais, se doado mais, ouvido, sentido e estado mais presente. Nós mulheres temos dessa, né? Nós nos acostumamos a nos partir em mil pedaços, assumimos incontáveis responsabilidades, desempenhamos um sem número de funções e mesmo assim não conseguimos nos livrar da maldição de nos sentir insuficientes.
E sobre isso eu posso falar com propriedade, sempre sonhei em trabalhar, alcançar sucesso profissional e independência financeira. Me tornei mãe logo após me formar na faculdade, e desde então me dedico incondicionalmente aos meus filhos. Deixar tudo de lado e maternar em tempo integral não foi uma decisão racional, admito. Não parei pra pensar como seria meu futuro ou se haveriam arrependimentos, eu simplesmente não consegui me dividir, eu queria estar com eles, vê-los dormir e acordar, ser o porto seguro, acalmar seus medos e inseguranças, queria ter certeza de que eles receberiam todo amor, cuidado e atenção que merecem, e assim eu fiz.
“Não pode deixá-lo perder tudo. Seu bebê fácil que, sem saber, testemunhou a mãe chorando tantas vezes; ela não pode suportar que esse seja o fim dele. Não pode suportar que ele seja mau. Por favor, por favor, por favor, faça com que ele — e ela — sejam bons.” (p. 113)
Quase nove anos depois eu preciso dizer que já nem me reconheço mais como indivíduo, sinto que me perco de mim todos os dias, cansada e sobrecarregada pelas escolhas que eu mesma fiz, eu quis ser tudo e dar tudo e hoje parece já não restar nada de quem eu fui e desejei ser. Não sei se existe alguma mãe capaz de se sentir plenamente satisfeita consigo mesma, mas uma certeza eu tenho, mesmo que houvesse optado por seguir trabalhando, a insatisfação, a culpa e o cansaço ainda seriam meus companheiros. É surreal como você é capaz de amar um ser humano mais do que a própria vida e ao mesmo tempo se sentir esmagada pela intensidade deste sentimento. É um amor tão grande que só se equipara ao sufocante medo de perdê-lo.
Mas o drama familiar e pessoal de Jen não é sob hipótese alguma a única base que sustenta esta narrativa. Existe uma investigação policial em curso cujo objetivo é desmontar uma quadrilha que opera com roubo de carros de luxo e tráfico de drogas, então ao submergir no passado Jen também adentra neste território hostil e em pouco tempo se vê no centro de uma teia de mentiras muito bem arquitetadas que a fará questionar tudo o que viveu nos últimos vinte anos.
Eu poderia destrinchar minuciosamente cada parte deste livro para justificar o que me fez adicioná-lo a lista de favoritos, mas quero que quem se propor a fazer esta leitura possa sentir o sabor de se surpreender a cada nova reviravolta, quem curte histórias como esta sabe bem como é delicioso poder ir juntando as peças enquanto se perde em uma trama bem escrita.
“Ela fez o melhor que pôde. E, mesmo quando não fez, a culpa é uma evidência como qualquer outra: ela queria fazer o melhor por ele, por seu bebê.” (p. 280)
E é exatamente isso que temos aqui, por mais improvável que alguns pontos possam soar, Gillian McAllister desenvolveu um enredo que mescla o incomum e o óbvio, e com isso conseguiu me manter cativa. Não posso dizer que me apaixonei por seus personagens, e mesmo tendo me identificado com alguns sentimentos externalizados pela Jen não acredito que ela foi escrita para ser amada, aliás nenhum desses personagens podem ser defendidos incondicionalmente pois apresentam uma dualidade real demais para ser ignorada, a linha que separa os mocinhos e os bandidos está bem definida mas mesmo as boas pessoas cometem erros.
Até onde uma mãe seria capaz de ir para impedir que o filho se torne um assassino? O que um homem seria capaz de arriscar para viver um amor verdadeiro? O que você faria para salvar a vida da pessoa que mais ama no mundo? E quais são as consequências disso?
Ficou curioso (a) para ler Lugar errado, hora errada? Então aproveite para conhecer outros livros da Editora Record que já apareceram aqui no blog.
Texto por Delmara – @nmundoliterario
Olá! Eu gostei da sugestão 🙂 parece ser bem interessante, vou ler com certeza.
Ultimamente não tenho tido tempo para ler, mas darei prioridade as suas dicas de leitura, logo!! Fiquei curiosa para acompanhar o drama dessa mãe, imagino o sofrimento dela ao presenciar o crime cometido pelo filho. Na minha vizinhança tem uma senhora que mesmo o filho cumprindo pena por assassinato jamais deixou de acreditar na inocência dele. Obrigada, Èrika, pela indicação desse livro, um abraço.
Confesso que fiquei muito curiosa pelo livro, é um livro muito tenso, tem uma história que deixa a gente presa na leitura.