Monica

Monica uma Jornada em Busca das Próprias Raízes

Oi gente, como vocês estão? Quem assistiu os últimos stories viu que a Editora Nemo nos enviou “Monica“, a mais nova HQ de ninguém menos de Daniel Clowes. Ele também é autor de Ghost World, conhecem? Inclusive tem uma adaptação protagonizada pela Scarlett Johansson, vale a pena assistir.

Monica não poderia ser diferente, uma história recheada de reflexões, personagens marcantes, e um final que nos deixa ?!? O trabalho gráfico dispensa comentários, a capa, as ilustrações internas, além das páginas serem divididas entre brancas e amarelas o que por si só chama atenção.

Sobre “Monica”

A HQ é dividida em 9 histórias, algumas delas tem relação direta, outras nem tanto. Na primeira acompanhamos um diálogo entre Johnny e Butch, nas trincheiras. Os dois são soldados e estão lutando juntos na guerra. O diálogo gira em torno do motivo que os levaram escolher aquela vida, qual o verdadeiro motivo das guerras, e o receio de morrer em combate. Será que morrer como herói é suficiente?

Penny (a mãe de Monica) está noiva de Johnny, porém ele é chamado para lutar na guerra. Nesse tempo, Penny sai com outros rapazes. Estamos falando dos anos 1970, onde a cultura do uso de drogas, dos hippies, e grupos alternativos estavam em alta. Penny só pensa em aproveitar a vida.

Num dia passeando com Leonard, os pais de Johnny a veem e ficam revoltados pelo filho estar na guerra e a noiva estar se divertindo com outros. O noivado termina.

Algum tempo depois Penny está grávida. Quem é o pai? Ninguém sabe. Como ela não tinha um bom relacionamento com os pais, vivia morando de favor na casa de seus amigos hippies. Até conhecer Davis. Eles viveram juntos por um tempo, mas ele não proporcionava uma vida cheia de adrenalina que ela queria. Foi nessa época que ela abriu uma loja de velas que fez muito sucesso.

Um de seus clientes, Richie, começou a paquerá-la. Penny então se mudou e as duas foram morar com ele. Mas não deu muito certo e logo em seguida Penny começou a trocar de namorado como se não houvesse amanhã.

O retorno de Johnny

Num dia, trabalhando numa lanchonete, ela se depara com Johnny. Sim, o do exército. Eles reatam e vão morar juntos. Ele a pede em casamento, eles se casam e formam uma família mesmo sem ele ser o pai verdadeiro de Monica.

Porém, numa noite, sem explicação Penny acorda Monica no meio da noite, coloca suas roupas em sacolas, e deixa a criança na casa de seus pais e simplesmente desaparece. Sem dar explicações. Ninguém nunca mais a vê.

É nesse momento que tem início a nossa história. Muitos anos depois, já adulta, Monica está em busca do seu passado. Quer saber quem é o seu pai, e o mais importante, quer entender porque sua mãe a abandonou. Por que abandonou Johnny, a vida estável, sua filha, e simplesmente sumiu?

Daniel Clowes

Sobre a separação dos meus pais

Meus pais se separaram quando eu tinha uns 3 anos. Minha mãe voltou a morar com os meus avós. Meu pai chegou a ir lá uma vez para saber de mim e da minha irmã, mas depois disso nunca mais tive notícias.

Um tempo depois ela conheceu meu padrasto, ficou grávida, e desde então nos mudamos com frequência. Já morei no RN, RJ, MG, PR, SC, e durante todos esses anos meu pai nunca se interessou pela minha criação ou educação.

Desde criança sempre ouvi a versão da minha mãe, de que o casamento era problemático, que minha avó (mãe do meu pai) se envolvia no relacionamento, que batia em mim, e pior ainda, passávamos fome. Eu sinceramente não tenho muitas lembranças, inclusive as poucas que tenho fico em dúvida se são minhas mesmo ou apenas criações dos diálogos com a minha mãe.

Sempre quis ter uma família “normal”, ainda mais depois de começar a frequentar a igreja católica. Me sentia meio deslocada quando perguntavam sobre meus pais e precisava dizer que eram separados. E pior, que não sabia nada sobre ele. Quando adolescente, naquela fase que nos tornamos rebeldes, quis arrumar minha mala e ir morar com ele. Briguei várias vezes com a minha mãe porque pensava que ela não me deixava saber a “versão” dele da história.

Por outro lado, eu e meu padrasto nunca nos demos bem, apenas nos toleramos. Nunca dei a ele o direito de brigar comigo, me pôr de castigo, ou achar ruim algum comportamento que eu tinha. E cada vez que brigávamos sentia mais vontade que meus pais não tivessem se separado. Desejava que voltássemos a ser uma família unida.

O tempo e amadurecimento

O tempo passou, creio que amadureci um pouco, e todo aquele desejo de ir atrás do meu pai ficou no passado. Ainda guardo uma foto dele de quando eu nasci. Soube que ele se casou e formou uma nova família, mas nunca tivemos contato. Às vezes, minha irmã, fala para procurarmos por ele na internet mas não vejo mais sentido entende? Ainda sinto uma pontinha de curiosidade para saber o que ele contaria sobre a minha mãe? Sim. Mas já não é tão importante quanto quando eu era adolescente e tinha necessidade de “conversar com meu pai”.

Em todas as cidades sempre moramos perto da escola então nunca precisei “ser levada”, sempre ia à pé. Mas já senti falta do meu pai me levar ou pegar em algum lugar. Telefonar para contar alguma novidade. Ganhar os “parabéns” por ter passado no vestibular. Me ensinar a dirigir. Apresentar um namorado, ou até me levar no altar no dia do meu casamento.

Sempre fui criada muito independente, tinha meu próprio quarto. Aprendi desde cedo ir à feira comprar legumes, à padaria comprar pão e leite. Pagar contas no centro da cidade. E assim nunca me vi esperando que alguém fizesse algo por mim. Saí de casa muito cedo, arrumei um emprego e fui morar sozinha. Os laços com a família que já eram frágeis, se tornaram quase inexistentes. Ainda não consigo avaliar se isso foi bom. Mas me sinto corajosa por saber que consigo ir atrás dos meus objetivos e não ficar à sombra de ninguém.

A leitura de Monica me refletir muito sobre a minha própria história e se eu me esforçaria tanto para saber sobre o meu passado, e conhecer o meu pai.

O que achei da leitura?

Daniel Clowes é conhecido por suas histórias profundas e cheia de nuances, Monica segue o mesmo ritmo. A narrativa acompanha Penny desde antes o nascimento de sua filha, até a descoberta de quem é seu verdadeiro pai, e finalmente descobrir o que de fato aconteceu com sua mãe após deixá-la com seus avós.

A primeira situação que nos faz refletir é a constante mudança com uma criança pequena. Enquanto Penny trabalhava o dia inteiro, Monica ficava com estranhos. Uma mãe usuária de drogas, que frequentava festas constantemente, não poderia ser responsável pela educação de alguém. Crescer num lar disfuncional já seria motivo o suficiente para Monica sofrer as consequências quando adulta.

No entanto, o abandono anos mais tarde foi ainda pior. O que faz uma mãe abandonar seus filhos? Esse questionamento acompanhou Monica todos os dias.

Vida adulta, sucesso, e a busca

Anos mais tarde, exatamente 22, Monica é uma mulher de sucesso. Criou uma loja de velas que se tornou famosa e reconhecida. O que chamou atenção de investidores que quiseram comprá-la. Monica então vê a chance de se reencontrar com o seu passado. Ela começa a ir atrás de todas as pessoas que conheceram a sua mãe, mas para sua tristeza, poucas a conheciam de verdade. Primeiro devido ao tempo, segundo porque naquela época estão todos drogados.

Esse momento da história fez com que eu lembrasse da minha adolescência, quando quis arrumar as malas e ir atrás do meu pai. Não conhecer suas raízes é como um capítulo em aberto, uma história sem desfecho. E Monica não conseguia seguir adiante sem encerrar essa parte da sua vida.

Mesmo fazendo novas amizades, mudando de cidade, sendo uma mulher de sucesso, nada disso fechou a ferida de ter sido abandonada pela mãe e não saber quem é seu pai. Essa é uma viagem que precisa ser feita sozinha. No entanto, Monica começa a fazer terapia, e isso de alguma forma a ajuda.

Foi uma leitura que trouxe bastante identificação, mesmo hoje eu não pensando mais em “conhecer minhas raízes”. Em vários momentos pensei no meu pai, em como ele está, e se ficaria contente em receber um telefonema meu.

Bom, essa foi a minha experiência lendo Monica. Agradeço a Editora Nemo pela oportunidade. E você, já conhecia essa HQ? Conhece o trabalho de Daniel Clowes? Conta aqui nos comentários 🙂

Leia sobre esta outra HQ da editora: Ghost World

Até o próximo post, Érika ♡


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3 Comentários

  1. Gostei da historia, embora ela comece com tom melancolico ao se desenvolver e ver o amadurecimento e força que teve para alcançar o sucesso, da uma alegria. Mudar muito as vezes pode deixar um pouco desmotivado.

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