Na luta, Reflexos do Mundo – Fabien Toulmé
Oi gente, como vocês estão? Se tem um autor que conheci nos últimos meses e me encantei pelo seu trabalho é Fabien Toulmé. Ele é responsável por Suzette, uma das HQs que mais gostei de ler. E agora, a Editora Nemo lança Na Luta – reflexos do mundo, uma coletânea de três histórias sobre diferentes lutas ao redor do mundo.
No primeiro capítulo viajamos com Fabien ao Líbano. Vamos saber mais sobre a Thawra, conhecer Nidal, Thierry, e outros personagens que vão nos explicar o que está acontecendo em Beirute e porque as manifestações são essenciais nos dias de hoje.
No segundo capítulo estamos em terras brasileiras, mas precisamente na comunidade de Porto Capim, em João Pessoa. É nesse estado que o autor conheceu sua esposa, teve a primeira filha, e onde agora um grupo de pessoas está prestes a ser expulso de um assentamento. Fabien inicia sua entrevista com Rossana, estudante de Serviço Social e criadora da Associação de Mulheres de Porto Capim.
No terceiro capítulo vamos ao Benin, na África, conhecer Chanceline. Uma jovem simples, cheia de ideais, e uma missão admirável. Lutar pelo direito das mulheres indo de encontro à tradição, e à cultura de seu povo. Benin, de acordo com a ONU, está na posição 158ª no quesito desigualdade entre homens e mulheres, e Chanceline como ativista quer mudar isso, ou pelo menos, conscientizar adolescentes quanto a gravidez precoce.
Minha história favorita
As três histórias são igualmente marcantes, mas eu seria injusta se não compartilhasse a que mais me cativou. Que foi a de Chanceline e sua busca pelo espaço da mulher na cultura africana.
De acordo com a pesquisa realizada pelas Nações Unidas o Benin é um dos últimos países na classificação de desigualdade de gênero. Ou seja, a sociedade naquele país dá espaço majoritariamente aos homens. Desde criança eles são ensinados a estudarem, buscarem uma carreira, e serem pessoas de sucesso.
Por outro lado, as mulheres são instruídas a abandonar a escola, buscar um casamento, e aprender a cuidar da casa e dos filhos. Elas não são incentivas a buscar uma formação, ter carreira, ou ainda se manter solteira e independente.
Aquela comunidade sofre com a miséria, o que se torna um gatilho para as meninas adolescentes venderem o próprio corpo a troco de roupas, maquiagem, ou mesmo comida. Muitas delas quando resistem às investidas dos rapazes são forçadas, o que contribui para o alto número de gravidez precoce. O que ocasiona, em grande parte das vezes, que elas abandonem a escola e o ciclo se repita.
Chanceline, por sua vez, cresceu numa família com o pai rígido e que defende essa cultura machista. A falta de informação sobre educação sexual é tão precária, que quando ela tinha 14 anos e menstruou a primeira vez seu pai pensou que ela havia se deitado com um homem. E isso a atormentou por anos. Anos depois, movida por esse sentimento de impotência, ela começou a escrever peças de teatro para a escola na qual simulava diálogos entre pais e filhos sobre o tema.
Oportunidades que mudam seu futuro
No início muitos pais eram contra porque aquela atitude era contra tudo o que o povo acreditava. Não era comum os pais conversarem sobre prevenção de doenças sexuais, gravidez na adolescência, ou relacionamento.
Entre os anos 2016 – 2020 foram registrados 9.300 casos de gravidez nas escolas. Essas meninas, além de abandonar a escola, são mal-vistas, discriminadas e rejeitdas pela própria sociedade da qual fazem parte.
Chanceline participou de uma formação oferecida pelos EUA no seu país e acabou ganhando uma bolsa. Isso a estimulou seguir estudando e fazer faculdade. Ela foi a primeira mulher da sua família a ter formação superior e isso é motivo de orgulho para os seus pais.
Hoje ela segue reunindo meninas e meninos e falando e debatendo sobre os cuidados com a vida sexual e a importância do diálogo com os pais.
A parte mais tocante pra mim foi ela contar como seu pai a inspirou. Sempre que começava um programa na TV apresentado por uma mulher de terno, ele lhe dizia que aquele podia ser o seu futuro. Quando via uma mulher na rua dirigindo, lhe dizia que tudo era possível. E se ela não quisesse casar, ela era livre para escolher. Se eu pudesse ficar com apenas um trecho dessa HQ seria essa lição. Acredito que não há nada mais inspirador do que nossos pais apoiarem as nossas decisões. Torcerem pelos nossos sonhos.
O que achei de “Na Luta – reflexos do mundo”?
Como disse anteriormente sou fascinada pela maneira como Fabien constrói suas histórias. Além de trazer personagens cativantes, narrativas envolventes, suas ilustrações merecem um elogio à parte.
Creio que em todo o mundo hajam lutas por uma sociedade mais igualitária, com mais direitos e espaço para as mulheres, e boas condições para os menos favorecidos. Mas algumas se destacam em meio a tantos conflitos, guerras, e protestos. É o caso das protagonistas apresentadas por Toulmé.
Às vezes o que suscita manifestações pode ser a cobrança de uma taxa indevida como no Líbano, a expulsão de uma comunidade ribeirinha como em João Pessoa, ou ainda a gravidez na adolescência como em Benin. Cada povo tem suas lutas diárias, seus desafios, e dependem de pessoas como Chanceline para lutar por elas, dar voz, e tornar suas vidas menos opressoras.
A maneira como o autor realizou as reportagens, se interessou pelas diferenças de cada cultura, e mergulhou em cada uma delas é o que torna Na Luta tão especial. Após algum tempo Fabien retornou aos lugares para conversar uma segunda vez com aquelas pessoas e saber como estava a situação do país, isso foi um diferencial nessa HQ.
De acordo com Toulmé ele continuará fazendo reportagens sobre o tema em outros países, nem preciso dizer o quanto estou ansiosa para saber o que vem por aí, na continuação de Na Luta.
Essa foi a minha experiência lendo Na Luta. Agradeço de coração a Editora Nemo pela oportunidade. E você, já conhecia essa HQ? Conhece o trabalho de Fabien Toulmé? Conta aqui nos comentários 🙂
Conheça esta outra HQ da editora: Suzette – ou o grande amor
Até o próximo post, Érika ♡
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