O Estudante

O Estudante – uma Reflexão Sobre o Uso de Drogas nas Escolas

Oi gente, tudo bem? Se você me acompanha a mais tempo sabe que sou fã da Coleção Vagalume e o quanto esses livros marcaram a minha adolescência. Um dos mais marcantes foi, sem dúvida, O Estudante, de Adelaide Carraro. Agora chega às livrarias pela Global Editora.

Busquei na memória livros indicados pelos meus pais nessa fase, e só consigo lembrar daqueles que fizeram parte das aulas de português e literatura. Um deles que tenho um carinho muito grande é O mistério da fábrica de livros. Lembro de ter lido diversas vezes e amava aquela capa com um coração entalhado numa árvore. Se tiver oportunidade, leia.

Nesse mesmo período conheci O Estudante. Apesar de a minha mãe sempre falar sobre não conversar com estranhos; e não aceitar bala, chicletes ou refrigerante de desconhecidos; foi esse livro que me marcou quanto ao “medo” de usar drogas. Voltando no tempo lembro que tive amigos que gostavam de tomar cerveja, de fumar, e talvez até usar maconha; mas nunca dei liberdade para que nenhum deles oferecesse ou pensasse que eu usaria também.

Primeiro porque o cheiro do cigarro me incomodava. Quando ia às baladas e voltava com aquele cheiro impregnado nas roupas, parecia que eu havia fumado a noite inteira. Não gostava dessa sensação. Quanto a beber no copo de outras pessoas, vinha o receio de alguém colocar alguma coisa na bebida, então sempre tomei refrigerante, comprava Coca-Cola, tomava e jogava a latinha fora. Sem dar chance dela ficar de bobeira em cima da mesa.

Venho de uma criação católica, estudei num convento e quase fui freira. Ainda hoje escuto as palavras dos meus pais, do padre, ou das irmãs dentro da minha cabeça. Em alguns momentos isso é positivo porque me afastou de situações de perigo. Mas por outro lado me limita quanto a pensar por mim mesma. Sempre me questiono se Deus estaria feliz com determinada atitude. Seja falar de alguém, ajudar, ou mesmo os sentimentos que carrego comigo.

Quando soube que a editora publicaria esse e diversos outros livros fiquei feliz em relê-los. Essa sensação de nostalgia torna a leitura ainda mais emocionante.

Conhecendo “O Estudante”

Renato e Roberto Mascarenhas são filhos do empresário Rubens Lopes Mascarenhas. Desde criança os dois são muito unidos, tanto que quando Renato foi ser matriculado no colégio os pais precisaram pôr os dois na mesma sala porque Renato não queria sair de casa. Desde então se tornaram inseparáveis.

Com o passar do tempo os meninos foram mostrando suas qualidades. Bons alunos, notas altas, respeito ao próximo e aos mais velhos, religiosos, sempre dispostos a ajudar quem precisasse.

Todos os anos a família fazia uma viagem internacional. Numa das vezes, quando foram aos EUA, Renato ficou deslumbrado como os americanos eram patriotas. Ele se questionou porque a maioria das casas usava uma bandeira do país e no Brasil isso não era comum. Esse fato o motivou a escrever uma redação sobre o patriotismo brasileiro. O trabalho ficou tão bom que foi lido para toda a classe, e também publicado no jornal da escola.

Aquela simples redação chegou às mãos de muitas pessoas, inclusive um detento que estava preso por ter entrado numa briga para defender um senhor de idade. Porém houve uma morte e ele foi condenado a seis anos de prisão. Intrigado com a inteligência de Renato ele solicitou ao delegado conversar com aquele brilhante aluno.

Dessa conversa surgiu um pedido: o detento gostaria que seu filho o visitasse na prisão e acreditava que Renato era capaz de conseguir tamanho feito. Ele estava certo. A família do detento morava num bairro muito afastado, pobre, e insalubre. Ao ver tantas famílias vivendo daquela maneira Renato não podia seguir sua vida como se toda aquela situação não existisse.

Adelaide Carraro

Foi então que teve a ideia de criar um projeto para ajudar não apenas o bairro, mas todas as pessoas necessitadas. Pôr em prática iniciativas como recolher o lixo, pintar as casas, doar roupas, pagar cursos para os homens terem uma profissão, comprar máquinas de costura para que as mães solteiras também tivessem uma renda. Foi um projeto audacioso.

Eram realizadas festas, leilões, tudo com objetivo de arrecadar fundos para os bairros mais pobres. E assim Renato crescia, fazendo a diferença na vida das pessoas. Sendo um aluno exemplar e ajudando a comunidade.

No entanto, nem todos estavam felizes com todo o destaque, elogios e boas noites que Renato recebia. Foi então que apareceu alguém dizendo-se “amigo” e lhe ofereceu drogas. O que parecia apenas um remédio para dor de cabeça, foi capaz de destruir uma família.

Minhas impressões sobre “O Estudante”

Ler O Estudante novamente após tantos anos foi uma experiência igualmente triste. Relembrar o quanto as drogas podem ser prejudiciais e destruir quem mais amamos aperta nosso coração. Por um lado, sinto-me feliz por ter conhecido o livro, por outro, fico imaginando quantas famílias passaram pela mesma situação e não tiveram forças, dinheiro, ou conhecimento para ajudar quem estava se afundando.

O livro é dividido em duas partes: antes das drogas, e depois das drogas. Dessa maneira a autora consegue chamar a atenção do leitor ao mostrar os primeiros indícios do vício, mudanças sutis, e o quanto as mentiras vão corroendo os relacionamentos.

Não sei se foi intenção da autora ou não, mas não consegui perceber “força de vontade” de mudar do próprio Renato, e sim da sua família. Os pais estavam mais preocupados com a reabilitação do que o próprio filho. Algumas situações, inclusive, deixa isso bem claro.

Fui uma criança que cresceu indo à Igreja, mas nunca me senti sufocada ou querendo romper com aquele mundo e ir embora. Me sentia bem fazendo as coisas certas, tirando boas notas, indo à missa, mas sabia que quando tivesse mais idade sairia de casa e teria minha própria vida. O que percebemos em Renato é justamente o contrário. Ele se sente sufocado com a vida que leva, com aquele senso de proteção, e deseja viver experiências que os pais não permitem. Isso o estimula a beber, ir em festas, gastar dinheiro, e não dar satisfação de seus atos.

Seguindo esse raciocínio relembramos o quanto a mãe dos meninos era superprotetora desde a infância. Não arrumavam os próprios brinquedos, não comiam sozinhos, eles viviam dentro de uma redoma. Essa parte me fez recordar da minha infância. Do quanto nos mudamos, conhecemos cidades diferentes, brincamos na rua com outras crianças, ralamos o joelho, caímos de bicicleta, e todas essas experiências nos tornaram crianças mais fortes.

Com a mesma idade de Renato eu já tinha viajado sozinha para outra cidade, sabia fazer compras e pagar contas, inclusive tinha ido estudar no convento. Analisando friamente, como leitora, acredito que se Renato tivesse tido mais vivência, se a mãe não fosse tão protetora, e tivesse permitido que eles saíssem do ninho de vez em quando, talvez Renato soubesse como agir quando alguém o oferecesse drogas.

É insensível culpar os pais? Não. É uma constatação. Crianças que têm contato com o mundo desde cedo sabem como agir em situações de perigo em grande parte das vezes. Por isso é tão necessário haver diálogo entre pais e filhos. Acompanhar os estudos, perguntar sobre os amigos, saber quem frequenta a sua casa, ou os lugares que os filhos frequentam; e orientá-los da melhor forma.

Lembro de um episódio de “Eu, a patroa, e as crianças” em que a Jay pergunta para o Michael se ele não está preocupado com os filhos. Ele diz: “ensinamos tudo o que podíamos, agora é ter esperança de que eles façam boas escolhas”. É isso. O trabalho dos pais é criar pessoas fortes, decididas, e que saibam o que fazer em qualquer situação.

Fui babá durante um tempo e acompanhei como os pais educavam várias crianças e isso me fez perceber que muitos deles realmente não estão preparados para terem filhos.

Poderia ficar horas pontuando o quanto a leitura de O Estudante é rica e cheia de nuances, mas espero que você tenha oportunidade de lê-los e tirar suas próprias conclusões.

Agora me diz, você já conhecia O Estudante ou leu algum livro de Adelaide Carraro? Qual o seu favorito? Conta aqui nos comentários!

Até o próximo post, Érika ♡


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3 Comentários

  1. Ola! Não conhecia o livro, gostei por tratar de um assunto muito importante. Irei ler com certeza 😉

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