O homem que brincava com fogo

O Homem que Brincava com Fogo e a Obsessão por Crimes Reais

Imagina que você é um fã de crimes reais e de livros com investigações criminais e tem a possibilidade de investigar um dos maiores crimes não concluídos da História do seu país e, ainda por cima, se depara com arquivos de seu autor de ficção favorito que também havia investigado esse crime! Parece coisa de filme, né? Mas O homem que brincava com fogo trata de uma história totalmente real!

Em uma noite de fevereiro de 1986, o primeiro-ministro da Suécia, Olof Palm, foi assassinado após sair do cinema com sua esposa. O crime chocou o país e rapidamente uma grande investigação foi iniciada para dar conta de prender o responsável.

A obsessão de Stieg Larsson

Stieg Larsson, que trabalhava como cartunista num jornal sueco, ficou pessoalmente abalado com o assassinato, pois sentia no íntimo que aquela morte teve motivação política.

Obcecado em rastrear e analisar células de extrema-direita na Suécia, Larsson decidiu investigar por si só esse caso e deu início a uma empreitada que consumiria sua vida, literalmente, já que morreu sem ver o caso ser encerrado.

A vida de Jan Stocklassa se cruza com a de Stieg Larsson em 2013, 9 anos depois da morte do autor.

Jan Stocklassa

Stocklassa sonhava em escrever um livro que desse conta de relacionar lugares específicos com crimes hediondos e, ao entrevistar pessoas para a história, acabou direcionando seu foco para o assassinato do primeiro-ministro, o que o colocou em contato com as anotações de Larsson.

A partir disso, Stocklassa decidiu cruzar as informações que já tinha levantado, com os arquivos de Larsson, na esperança de reavivar o caso e ajudar nas investigações da polícia.

Seu objetivo quando o livro foi lançado, lá em 2018, era que todas as informações que levantou, cruzou e analisou, ajudassem a polícia a fechar o caso nos próximos anos.

encerramento do caso em 2020

Stocklassa estava certo, a polícia realmente encerrou o caso em 2020 cravando o nome do assassino, mas sem conseguir de fato apontar a motivação do crime.

“Às vezes a história se desenvolve no mesmo ritmo que um romance de Robert Ludlum, outras vezes se parece mais com um mistério de Agatha Christie, para depois se tornar um romance policial com toques de comédia.”

Mas o plotwist dessa história é que o nome divulgado pela polícia nem de longe passou pela lista de suspeitos que tanto Larsson quanto Stocklassa tinham.

Inclusive Stocklassa falou sobre sua frustração quanto ao encerramento do caso em uma entrevista de 2020. Ele chega a mencionar que está produzindo um novo livro que, apesar de não ter o assassinato como foco, dará conta de esclarecer as motivações do crime.

Tá, Dri, mas quem é Stieg Larsson e como ele se tornou uma figura importante dentro dessa investigação?

O homem que brincava com fogo

Esse nome pode soar estranho aos ouvidos dos menos atentos, especialmente porque é sueco. Mas esse homem assina nada mais nada menos do que a trilogia Millennium, cujo primeiro livro “Os Homens que não amavam as mulheres”, foi adaptado para os cinemas tendo Daniel Craig [eterno James Bond] como um dos protagonistas!

Eu já li o primeiro livro da trilogia e sei do sucesso que essas histórias têm, alcançando mais de 80 milhões de cópias vendidas pelo mundo. Mas foi apenas após a leitura de O homem que brincava com fogo, que descobri que a famosa trilogia foi publicada após a morte prematura do autor.

Sobre a estrutura narrativa de O homem que brincava com fogo

O livro traz uma narrativa dividida em capítulos intercalando passado e presente.

Passado

Nesses capítulos, acompanhamos a investigação de Stieg Larsson sobre o assassinato do primeiro-ministro e, aos poucos, vamos percebendo como esse trabalho vai se confundindo com a própria vida do autor até chegar ao ponto de consumir sua existência, depois de quase 20 anos de pesquisa.

“Ele não cuidava bem da saúde, fumava muito, dormia pouco, só se alimentava de sanduíches enquanto trabalhava, mas não era algo para se preocupar, não é? Ele tinha apenas cinquenta anos.”

Stieg Larsson mal comia e dormia tamanha era sua obsessão com o caso. Produzia relatórios, listas de suspeitos e cruzava informações de células de extrema-direita a fim de tentar esclarecer quem estava por trás daquele crime hediondo. Chegou a cooperar com a polícia, entregando documentos de sua investigação pessoal uma vez que as autoridades o chamaram para ajudar no caso, sabendo de seu grande conhecimento político sobre os opositores do primeiro-ministro.

“No prefácio, mencionavam brevemente o nome de Stieg Larsson. Larsson sabia que essa era a única maneira de poder continuar com o projeto e escolhera não ter a participação revelada. Também esperava que os extremistas de direita não percebessem nada.”

Além de tudo isso, Larsson colaborou ativamente com artigos sobre o caso que eram publicados na imprensa sueca, mas eram assinados por outros dois jornalistas, já que ele tinha medo de represálias por seu conteúdo abertamente acusatório contra certos membros do governo sueco e outras pessoas ligadas à política do país. O trabalho foi publicado em formato de livro algum tempo depois, Larsson não aparecia como autor.

“Em alguns trechos do livro, Stieg reconheceu suas próprias formulações, o que o deixou bastante orgulhoso por fazer parte de uma obra jornalística tão comentada e elogiada.”

Stieg Larsson

Presente

Partindo diretamente da investigação de Stieg Larsson, Jan Stocklassa tenta rastrear diversos nomes importantes do caso, reconstituindo os últimos passos do primeiro-ministro, com quem ele esteve envolvido e quem eram os opositores diretos de seu governo.

Stocklassa não economiza tempo, dinheiro nem disposição nessa jornada. Viaja para outros países, se encontra com supostos criminosos mafiosos e matadores profissionais e tem sua integridade física posta à prova mais de uma vez.

sobre O homem que brincava com fogo

Apesar de conter muitas informações específicas do contexto político da Suécia na década de 80/90 e ter um início que pode deixar o leitor confuso, a narrativa logo engata num clima de tensão frequente que envolve de um jeito que você acaba torcendo para que toda essa investigação tenha um final digno. De que Stieg Larsson pudesse ver, seja lá de onde estiver, que seu trabalho não foi em vão.

Se você é fã de Stieg Larsson e de seus livros, não deixe de ler esse livro! Além de poder acompanhar de perto um pouco do processo criativo por trás da sua trilogia, o leitor tem acesso direto a documentos de sua investigação sobre o assassinato do primeiro-ministro, anexos de redes de suspeitos escritas de seu próprio cunho e correspondências que Stieg trocava com jornalistas ingleses e suecos.

“Em 2002, Eva o encorajou a usar suas férias de verão na ilha para escrever, e assim Stieg colocou a primeira folha na máquina, grafando o seguinte título na parte superior do papel: Os homens que não amavam as mulheres.”

Com uma escrita fluída e poética, o livro dá conta de equilibrar muito bem dois pontos de vistas diferentes sobre um mesmo caso, sem se afastar demais dos sentimentos pessoais de cada um dos jornalistas envolvidos, ora Larsson, ora Stocklassa, mostrando como é tênue a linha entre um interesse profissional num caso e a obsessão por crimes não solucionados, especialmente aqueles que envolvem conspirações internacionais!

FICHA TÉCNICA

Título: O Homem que Brincava com Fogo – Os arquivos secretos de Stieg Larsson e a caça
ao assassino mais procurado da Suécia
Autor: Jan Stocklassa
Editora: Verus
Número de páginas: 420
Link para adquirir o livro: https://amzn.to/38yNwfJ

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Até a próxima, Dri!

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17 Comentários

  1. Olá,
    eu meio que já quis muito ler “Os homens que não amavam as mulheres”, esta trilogia é muito elogiada por todos que tem a oportunidade de conhecer sua história, mas até hoje eu nunca me aprofundei muito nesta trama, nem a adaptação eu assisti ainda, acredita? Quanto a “O homem que brincava com fogo”, fiquei extremamente surpresa ao tomar conhecimento de sua origem, que se mostra incrível não só por tratar de uma história real, mas por ser fruto da obsessão de um autor tão renomado. Uma pena o Stieg, depois de tantos anos de pesquisas, tenha partido sem ver onde o seu trabalho chegou.

    Abraços!

    1. Vale muito a pena ler essa trilogia, são thrillers de tirar o fôlego 🙂 Quanto ao não ficção, é uma outra pegada, mas tão envolvente quanto <3

  2. Achei muito interessante toda a história por trás desse livro, me deu até vontade de ler. Não digo que por agora, mas com certeza quero ler esse livro, vou colocar na minha lista de leituras.

  3. Olá, tudo bem?

    Ainda não conhecia o livro, mas, uau, já fiquei muito interessada. O fato de ser baseado em fatos já me anima, principalmente quando temos um autor como chave central. Ainda não conheço o trabalho do Stieg de perto, mas já li muitos comentários positivos a respeito. Esse parece ser uma daquelas obras inesquecíveis, que vou amar, certeza.

    Beijos!

    1. Oi! tudo bem sim e vc?
      Eu tb fico doidinha quando vejo que a história é baseada em fatos! E essa daqui vai para lados que eu jamais imaginaria O.O

  4. Um livro que vai deixar qualquer um viciado na leitura, já que o personagem da trama, não comia direito, não tinha sua vida tranquila, porque era obcecado por caçar assassinos, amei sua indicação.

  5. Gostei muito dessa indicação, é o tipo de leitura que me prende e me faz devorar cada página. Amei sua indicação, estou finalizando uma leitura e já quero pegar esse livro, beijo grande.

  6. Ótima dica literária, uma investigação que consegue equilibrar os dois pontos de vista, sendo uma escrita que se desenvolve em dois tempos.

    1. Nossa, sim! E a parte da investigação é muito rica em detalhes no livro, fiquei tentando cruzar as informações todo o tempo em que estava lendo hahahah

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